ANÁLISE DAS ELEIÇÕES 2020 EM SÃO MATEUS: Daniel Santana (PSDB): Cestas básicas emergenciais, obras ‘eleitoreiras’ e campanha ‘milionária’ embrulhadas em mentiras e fake news institucionalizada

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Com uma campanha ‘milionária’ e farta distribuição de cestas básicas emergenciais no período da disputa eleitoral, o prefeito Daniel Santana (PSDB), 56 anos, foi reeleito em São Mateus, obtendo 20.899 votos (36,42%) frente a oito candidatos e uma candidata de oposição nas Eleições 2020. Depois de passar três anos e meio sem realizações, Daniel aproveitou os recursos do combate à covid-19 para contratar diversas obras vistas como “eleitoreiras” no ano atípico. Mesmo despreparado, contou com a desunião e a falta de liderança dos adversários para se manter no ‘Escondidão da Alberto Sartório’. E, com uma eficiente equipe de marketing político, soube apresentar ações obrigatórias de gestão como políticas públicas embrulhadas em mentiras e fake news institucionalizada, que implantou no mandato de forma pioneira no Espírito Santo.

Daniel foi eleito em 2016 no embalo da comoção popular pelo auxílio dele aos moradores de São Mateus no período da crise hídrica – o então prefeito Amadeu Boroto esbanjou incompetência na busca por solução definitiva para o problema da salinização da água do Rio Cricaré e deixou o governo com forte rejeição. Denunciado pelo Ministério Público, Daniel Santana travou nos dois primeiros anos uma batalha na Justiça Eleitoral para permanecer no cargo. E, se isso aconteceu, não pode passar despercebido a fatídica reunião de políticos e do advogado do Prefeito com o ministro do TSE Alexandre de Moraes no episódio da foto polêmica, que precedeu ao voto decisivo.

NÃO CUMPRIU ÚNICA PROMESSA DA 1ª CAMPANHA

Nesse período, Daniel da Açaí praticamente não administrou a Cidade (a não ser para assinar editais para a realização de festas, com a contratação de shows e estrutura com valores milionários). Culpava a Justiça Eleitoral e a Câmara de Vereadores, a partir da implantação de um sistema criminoso de comunicação, formado pela parceria da Secretaria Municipal de Comunicação Social com a rede de páginas Boca no Trombone, condenada pela Justiça por criação e distribuição de notícias falsas com achincalhamento de cidadãos de bem e autoridades, inclusive membros do TSE, Deputados Estaduais e o Governador do Estado. São Mateus é pioneiro na implantação oficial da fake news institucionalizada [quando um poder constituído serve-se de notícias falsas para atacar outros poderes, agentes políticos, autoridades e cidadãos de bem por interesses próprios]. E essa prática viria a ser usada também na campanha das Eleições 2020.

Nos dois primeiros anos, quando contava com o apoio do Governo Paulo Hartung, Daniel da Açaí fracassou no cumprimento da promessa de campanha de solucionar o problema de abastecimento de água em São Mateus, inclusive não conseguindo levar adiante o projeto de mudança de captação de água bruta no Rio Cricaré. Já em 2019, livre da pendenga judicial eleitoral mas abraçado com a costumeira incapacidade de articulação política, o autointitulado ‘prefeito da periferia’ fracassou tendo o apoio do Governo Renato Casagrande na proposta de concessão do Saae à Cesan. Sempre distante dos debates com a população, Daniel da Açaí não foi nem às duas audiências públicas que a própria Prefeitura convocou.

Mas novamente serviu-se do sistema criminoso de fake news institucionalizada para jogar a culpa na Câmara Municipal pela rejeição do projeto, assim como já fizera na proposta esdrúxula que (mal) elaborou para obter da Caixa Econômica Federal, por meio do Finisa, recursos para saneamento básico, especialmente calçamento. A mentira, na época desmascarada pelo Jornalismo Independente do CENSURA ZERO, voltou a ser abraçada por Daniel na campanha eleitoral como se fosse um testamento.

MENTIRAS E DINHEIRO VIVO NA CAMPANHA

Aliás, conforme o CENSURA ZERO já publicou, o prefeito Daniel Santana (que escondeu no apelido ‘Açaí’ por conta de problemas fiscais e trabalhistas da empresa) mentiu sobre a cor/raça e apresentou dados suspeitos à Justiça Eleitoral, na documentação de registro de sua candidatura à reeleição. Em 2016, Daniel elegeu-se declarando cor/raça ‘branca’ e, depois de quatro anos, mudou para ‘parda’. Teria sido resultado da longa permanência junto aos trios elétricos em Guriri, ou um artifício para conseguir mais recursos para a campanha com a nova legislação que beneficia candidatos negros e pardos?

Já a declaração de bens protocolada com a documentação ao TRE é curiosa e suspeita. O prefeito Daniel declarou encolhimento do seu patrimônio nesses quatro anos. Exatos R$ 203.200,00 a menos, correspondentes à redução no destacado volume de “dinheiro em espécie” que afirmou ter em seu poder.

Em 2016, o então candidato declarou possuir R$ 971.344,00 em bens. Além de quotas da Água Mineral Açaí (R$ 31.344,00) e um terreno no Bairro Litorâneo (R$ 90 mil), Daniel Santana Barbosa afirmou ter R$ 850 mil em dinheiro vivo. Em 2020, declarou ter patrimônio de R$ 768.144,00, destacando que as quotas da Água Mineral Açaí mantiveram-se com valor estático (R$ 31.344,00), assim como a área de terras (R$ 90 mil). O candidato à reeleição declarou ao TRE valor menor de “dinheiro em espécie”, mesmo assim alto: R$ 646.800,00.

Em 2016, o próprio Daniel Santana Barbosa foi o principal financiador de sua campanha, bancando R$ 288 mil dos R$ 320.960,00. Arcou com 89,73% dos gastos da campanha vitoriosa a prefeito de São Mateus. Em 2020, ele chegou a depositar R$ 150 mil em recursos próprios em dinheiro na conta oficial da Candidatura a Prefeito.

O fato teve grande repercussão nacional, chegando a ter destaque em todos os telejornais da Rede Globo. Daniel cessou os depósitos próprios e logo apareceram benevolentes doadores endinheirados para abraçar a campanha: José Adriano Belizário (R$ 150 mil), Altair Fidelis Ramlow (R$ 100 mil) e Luiz Osvaldo Pastore (R$ 25 mil). A campanha ‘milionária’, orçada oficialmente em R$ 600.500,00, ainda teve pomposos recursos dos partidos: PSDB (R$ 100 mil) e Cidadania (R$ 75 mil).

TÉNICOS NA POLÍTICA E CESTAS BÁSICAS EMERGENCIAIS

Na questão política, um dos reflexos da rejeição de Daniel na candidatura à reeleição foi o encolhimento do número de aliados: de 12 partidos em 2016 para apenas 5 siglas em 2020. Ele conseguiu unir ao PSDB somente Cidadania (do candidato a vice-prefeito Ailton Caffeu), PDT, PTB e MDB. Todos os presidentes destes partidos são ligados a ele como integrantes do primeiro escalão da Prefeitura ou servidores de cargos comissionados, sendo que PTB e MDB nem formaram chapas de candidatos a vereador(a).

E pode ser considerado outro absurdo: em plena pandemia da covid-19 e momento crítico do abastecimento de água potável, o prefeito retirou o secretário municipal de Saúde, Henrique Follador (de perfil técnico), para ocupá-lo com as funções de presidente do MDB e fez o mesmo com René Michel Kherlakian acumular a responsabilidade à frente do Saae com a presidência do PSDB e da coligação majoritária. E os nove candidatos de oposição acharam isso normal; não questionaram o prefeito na campanha nem nos debates sobre isso!

Isso também ocorreu em muitos outros aspectos. O prefeito Daniel Santana distribuiu em 2020 cerca de 100 mil cestas básicas emergenciais com recursos ordinários e da covid-19, sendo o edital de aquisição de 30 mil registrava a distribuição coincidindo com o período de campanha e votação. Houve denúncias sobre a prática. Além disso, autorizou mais obras e ações nos seis meses anteriores à eleição do que os três anos inteiros do mandato. Sem falar no uso da máquina pública nas zonas urbana e interior, incluindo a ampla contratação de estagiários e comissionados, conforme denunciado pela Câmara de São Mateus.

DANIEL E FAKE NEWS INSTITUCIONALIZADA

Como já era esperada, a candidatura à reeleição de Daniel Santana foi bastante competitiva. A receita privilegiada possibilitou uma excelente estrutura de campanha e a contratação de uma estrutura profissional de comunicação e marketing digital, o que fez a diferença no confronto com os opositores. Ações obrigatórias da administração municipal foram apresentadas como políticas públicas, maquiando a gestão precária marcada pela inversão de valores no mau uso dos recursos financeiros.

Usaram com eficiência o maior tempo nos programas de rádio/TV e nas inserções, sem desperdiçar energias para forçar o candidato à reeleição a pronunciar uma frase inteira com conteúdo. O candidato a vice-prefeito, Ailton Caffeu, nem apareceu. Limitou-se à campanha de rua, cumprindo a tarefa de captar votos na ‘região dos quilômetros’. Ele foi eficaz!

Com a denúncia forte da imprensa à primeira investida de malfeitores da internet, Daniel deu uma pausa no uso do sistema criminoso de comunicação e passou ele mesmo apresentar as fake news institucionalizadas na campanha. Usou fartamente o discurso de que não fez nada porque os atuais vereadores não deixaram e, com a ajuda do marketing da campanha, usou os “eleitores mirins” para fazer ecoar o ‘conto de Daniel’ e conquistar votos.

Levou a tática para os debates realizados por emissoras de rádio e TV da Cidade, usando a ironia para se defender das investidas mal coordenadas de Dr. Mauro Peruchi (Rede) e das críticas polidas de Eliezer Nardoto (PRTB), os mais contundentes contra os desmandos de atual gestão. Cida Negris (PV) comportou-se como ‘coleguinha’ e Eneias Zanelato (PT) fez críticas a aspectos da gestão sem mirar o candidato à reeleição aliado político [alguns candidatos a vereador do PT fizeram campanha colada com Daniel, inclusive os atuais vereadores Francisco Amaro – líder do prefeito na Câmara – e Doda Mendonça].

Ferreira Júnior (Solidariedade) e, principalmente, Carlinhos Lyrio (Podemos) não chegaram a incomodar o candidato à reeleição como deveriam, apesar dos fartos argumentos de campanha para isso. Pasmem! Houve um momento no debate da Rádio Kairós FM que chegaram até a ser atacados e recorreram até ao direito de resposta! Os demais candidatos… foram os outros candidatos! Daniel se deu ao luxo até de usar a leitura cambaleante para divulgar algumas propostas do Plano de Governo – diga-se de passagem, muito bem elaborado tecnicamente.

RESISTIU À ‘ONDA DO VOTO ÚTIL’

Em um pleito complicado em ano atípico, faltou competência e sensibilidade política da coordenação e dos candidatos de oposição, especialmente Carlinhos Lyrio e Ferreira Júnior que apareciam como principais adversários nas questionadas pesquisas eleitorais, para adotar a conscientização do ‘voto útil’ durante todo o período da campanha. Um fator que já havia sido noticiado pelo CENSURA ZERO a partir de pronunciamento do vereador Carlos Alberto (PSB) na Câmara de Municipal. Carlinhos surfou na ‘onda da reta final’, mas não foi o suficiente para ‘dar um caldo’ em Daniel, mesmo despreparado e mentiroso.

Por maioria dos votos, São Mateus segue na mesma maré: gestão desorganizada; site da Prefeitura registrando aumento casos de covid-19 e mortes; prefeito Daniel Santana assistindo a tudo caladão e dando ‘joinha’; Secretário de Saúde embromando nas entrevistas à TV Gazeta e preocupado com protocolo na festas em Guriri; área do Mercado Municipal alagando e desmanchando “asfalto eleitoreiro”; internautas voltando a reclamar em vídeos e fotos nas redes sociais…

De novo mesmo, somente o início do trabalho investigativo da Polícia Federal no cumprimento a mandatos de busca e apreensão na sede da Prefeitura. Já é um começo.

Que venha o segundo mandato de Daniel Santana (o comendador das cestas básicas emergenciais), ex-Daniel da Açaí (o proclamado ‘comendador das águas’)!

CHAPAS DE VEREADORES

Dos cinco partidos da coligação de Daniel Santana-Ailton Caffeu, dois não apresentaram chapa de candidatos a vereador(a): PTB e MDB. O PDT não elegeu ninguém, o PSDB conseguiu eleger dois vereadores e o Cidadania teve votos para conquistar uma vaga na Câmara Municipal.

Com grande estrutura de campanha, o PSDB, do prefeito reeleito, teve a maior votação na eleição proporcional de 2020: 7.769 votos. Foram eleitos Kacinho (855 votos) e Pia (773 votos). Na suplência, ficaram Marcos Samaritano (627) e Wanderlei Segantini (620 votos).

A chapa de candidatos(as) a vereador(a) do Cidadania obteve um total de 3.202 votos, elegendo Adeci de Sena (573 votos). Os suplentes são Peixe Seco (463 votos) e Paulo da Abavam (456 votos). O fiasco ficou por conta do porta-voz do prefeito, Dilton Pinha, dono da rede de páginas de fake News Boca no Trombone: teve apenas 232 votos e foi rejeitado nas urnas.

A chapa proporcional do PDT, presidido pelo secretário de Comunicação Social Júnior Eller, obteve 2.098 votos, insuficientes para assegurar vaga na Câmara Municipal, representando a derrota de outra grande aposta da gestão Daniel. Leonardo Correia, filho do secretário de Agricultura e de Obras Renilto Correia, teve 435 votos e não conseguiu se eleger.

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