POR FERNANDO IODICE*
A pandemia de covid-19 derrubou a renda de muitas famílias brasileiras, com os índices de inadimplência registrados pela Serasa batendo recorde em abril, com 65,9 milhões de pessoas na lista de devedores e a taxa de desemprego atingindo 13,1% no mês de julho (IBGE). Mesmo expressivo, o tsunami que o novo coronavírus causou em diversos negócios e orçamentos familiares não pode ser considerado o único motivo da inadimplência no país.
Isso porque, ainda de acordo com a Serasa, 4 de cada 10 adultos estão com contas em atraso e o montante deste grupo já estava na casa dos 60 milhões há um bom tempo. Isso mostra que o problema, embora agravado pela crise econômica, já existia e o que percebemos no dia a dia é que a falta educação financeira tem um peso grande nessa conta. E aí entramos em um ponto fundamental nos dias de hoje: o não pagamento de contas pode não somente acarretar no não recebimento de um serviço – como é o caso do fornecimento de luz e telefone – mas também abaixa o score do consumidor, que passa a ter, agora, as suas contas domésticas incluídas no Cadastro Positivo.
Por conta disso é que o citado histórico de comportamento de crédito, cuja lei de autorização foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2019, representa uma boa notícia para o cidadão, que pode ter maior disponibilidade de crédito no mercado, além de juros mais atraentes, partindo-se do pressuposto de que as instituições financeiras conseguem conhecê-lo melhor. As pessoas são diferentes e, como tal, pagam contas de forma diferente. Parece óbvio, mas até pouco tempo atrás essa ideia não era colocada em prática. Deixar de pagar uma conta de celular por esquecimento é diferente de se enrolar no cartão de crédito por negligência financeira, por exemplo. Dívidas não são iguais e as motivações que as antecedem também não.
Com a recente inclusão das telefonias no Cadastro Positivo e a eminente adição das contas de luz, água e gás, muitos consumidores sem acesso a empréstimos poderão se beneficiar, especialmente os desbancarizados, que não buscam o serviço nas instituições tradicionais. A tendência é que o Cadastro ajude a mudar o comportamento das famílias, ao fazer com que a quitação das contas domésticas ganhe ainda mais importância, evitando, ao menos, parte da atual taxa de inadimplência mencionada.
No entanto, cabe dizer que a democratização do acesso ao crédito precisa ser colocada ainda mais em prática. Avançamos no tema, mas ainda são quatro as empresas que controlam as informações em questão no Brasil, o que dificulta o dia a dia, especialmente, das fintechs que precisam pagar pela consulta ao Cadastro Positivo e, muitas vezes, descobrir que o cliente em questão não pode de fato tornar-se um cliente porque tem dívidas em atraso. Ou seja, é importante acompanharmos a evolução deste modelo no Brasil e vermos se ele conseguirá atender aos que se afogaram nas ondas da crise.
*FERNANDO IODICE é cofundador da fintech iq e vice-presidente do grupo Red Ventures no Brasil
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