O fechamento da BR-101 provocou um engarrafamento de pelo menos seis quilômetros de cada lado da pista. Só ambulâncias e veículos com pessoas doentes foram autorizadas a passar pelos manifestantes durante o ato.
Na terça-feira (18), o Governo do Estado patrocinou um verdadeiro ato de terrorismo sobre as comunidades quilombolas do Estado: três de seus quatro helicópteros passaram toda a tarde fazendo rasantes sobre as casas dos moradores do território. Moradores comparam a ação aos atos terroristas praticados pela ditadura militar.
RISCO DE MORTE
Estão na cadeia, a pedido da Fibria, Altione Brandino, Antonio Marcos Cardoso, Domingos Cardoso e Hamilton Cardoso. Como se fosse pouco, a prisão arbitrária, que transformou os quilombolas de vítimas em criminosos, teve um agravante. Eles foram transferidos para Viana, na Grande Vitória. Outros 24 estariam na mira da Polícia Civil para serem presos.
Há um problema adicional. O quilombola Altione Brandino é vitima de epilepsia. Faz uso continuado de remédios para controlar a doença. Já Domingos Cardoso é acometido de diabetes e pressão alta. Também faz uso continuado de remédios, e tem dieta rigorosa. Sem medicação adequada, os dois correm risco de morte, afirmam os quilombolas.
PRESSÃO
A polícia botou pressão sobre os manifestantes que pararam o trânsito na rodovia. O efetivo estacionado nas proximidades dos manifestantes foi estimado em cerca de 40 policiais militares, com armas pesadas, sem contar os membros da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e da Polícia Civil. Há informações de que a PM teria disponibilizado pelo menos cinco vezes mais policiais para o local em pouco tempo, se fosse considerado necessário.
O comando local chegou a mandar que as crianças fossem retiradas da área da manifestação, considerando afastar os manifestantes à força. Mas houve negociação e as lideranças do movimento e a polícia acertaram liberar a pista às 14h.
Participaram da manifestação cerca de 500 quilombolas, que cumpriram o acordado. Minutos antes das 14h, passaram a se concentrar na frente das instalações da Fibria, existente nas proximidades do trevo da BR-101 para a sede de Conceição da Barra.
Também há disposição para manter a luta até que o território quilombola seja devolvido à comunidade quilombola tanto pela Fibria como pela Suzano, que também ocupa uma parte do território.
Há décadas os quilombolas lutam contra a usurpação de suas terras. Há toda uma trama nesta ocupação, que contou com doações de terras do Governo do Estado em plena ditadura militar, com a ocupação de terras devolutas, e grilagem, com uso de força. A Fibria tomou dos quilombolas grande parte do antigo Território de Sapê do Norte, formado por Conceição da Barra e São Mateus.
O uso intensivo da terra com plantios de eucalipto, uma espécie exótica e que impede não só o crescimento de outras plantas nas suas proximidades, como toda a biodiversidade, criou um deserto verde. Os poucos quilombolas que conseguiram resistir em minúsculos terrenos no meio dos eucaliptais têm suas águas contaminadas por venenos agrícolas usados pela empresa, e terras pouco produtivas, considerando a concorrência dos eucaliptos.
(Fonte: Século Diário Fotos: Jorge Alex)