POR ALEXANDRE PIERRO*
Você já ouviu falar em inovação aberta? O termo foi criado pelo pesquisador Henry Chesbrough, em 2003, com o lançamento do livro “Open Innovation: The New Imperative for Creating And Profiting from Technology”. A ideia, segundo o autor, é expandir os limites das organizações e contar com colaboradores externos para que a inovação flua de forma múltipla. Genial, certo? Mais ou menos.
Definitivamente, não sou contra a inovação aberta. Muito pelo contrário. Acredito que o intercâmbio de ideias e principalmente o oxigênio trazido por startups ou mesmo universidades é primordial para o processo de inovação de qualquer empresa. No entanto, tenho visto muitas empresas apostarem todas as suas fichas na inovação aberta, deixando de lado a importância de estimular e valorizar a inovação que é gerada por seus próprios colaboradores.
O estilo startup é mesmo apaixonante, em especial para quem já está cansado das formalidades e burocracias do mundo corporativo. No entanto, cabe destacar que nem tudo são flores nesse universo. Segundo um levantamento da aceleradora Startup Farm, de 2016, 74% das startups fecham após cinco anos de existência. Ou seja, a grosso modo, os projetos desenvolvidos por elas já nascem com uma chance significativa de dar errado.
Em tempos de recursos contados, como boa parte das empresas enfrenta hoje com a crise do novo coronavírus, isso é impensável. E não se trata de um valor baixo, acessível para o mercado. Segundo o estudo 100 Open Startups, o valor médio dos contratos de inovação aberta é de R$ 140 mil. Ou seja: muito dinheiro aplicado e que precisa dar um retorno mensurável!
A pesquisa ACE Innovation Survey 2020, que ouviu empresas de vários portes e segmentos, mostra que quase todas as empresas que faturam acima de R$ 1 bilhão estão trabalhando com startups. Cerca de 44% delas tem um departamento interno responsável pela busca de startups, enquanto 30% afirmaram ter ajuda de consultorias. Metade dessas empresas dizem contratar startups como fornecedores, 25% afirma fazer investimentos nelas e 17% revelam já ter comprado ao menos uma startup. As maiores iniciativas de inovação aberta presente nessas empresas foram hackathons (40,7%) e engajamento de executivos na mentoria de startups (22,2%).
Todas essas iniciativas são válidas, desde que seja levada em consideração a estratégia específica de cada empresa. Contudo, não podemos, em hipótese alguma, apenas delegar a responsabilidade da inovação para as startups, que em sua maioria desconhecem profundamente a cultura e os objetivos da empresa patrocinadora. Mais frustrante ainda é não dar voz e vez ao público interno, que clama por atenção para suas ideias – que muitas vezes são simples, mas com alto potencial de impacto na realização de valor da companhia. Estimular o intraempreendedorismo é tão – ou até mais – importante que a conexão com o mundo exterior.
Uma boa forma de orquestrar e mensurar os resultados tanto da inovação aberta quanto da fechada é por meio da utilização do framework internacional de inovação estabelecido pela ISO – Organização Internacional de Padronização, a ISO 56002. Depois de 11 anos de estudos e um consenso entre 164 países, a ISO formulou um guia de boas práticas em inovação, na qual defende a criação de um sistema de gestão da inovação altamente personalizado e com foco nos resultados.
Ao adotar a ISO 56002 como norteador para os processos de inovação, a empresa define suas metas, política e visão, canalizando todos os esforços para um único objetivo: aumentar a realização de valor. E, um dos capítulos da norma fala justamente sobre a necessidade de criar programas de estímulo à geração de ideias pelas partes interessadas internas e externas. Indo além, a ISO reforça a necessidade de recompensar os inovadores, seja de forma financeira ou não-financeira, a fim de garantir que a inovação venha por todos os lados. Dessa forma, a empresa terá mais quantidade de iniciativas, podendo gerar ainda mais qualidade para suas inovações.
De modo geral, o que a ISO 56002 reforça é a necessidade de desenvolvermos uma direção estratégia, com uma abordagem orientada por processos e indicadores capazes de mostrar se a empresa está no caminho certo ou se precisa fazer algum ajuste de rota. Outro ponto fundamental é o desenvolvimento de uma cultura colaborativa, adaptativa e resiliente, capaz de tornar a instituição mais forte e preparada para lidar com as adversidades. Quem simplesmente aposta todas as suas fichas na inovação aberta, ignora todo o potencial do público interno. A inovação deve ser um processo intrínseco e horizontal para toda a empresa, não devendo ficar restrita a uma área, departamento, laboratório e muito menos às startups. Afinal, santo de casa faz milagre sim. Ele só precisa que a gente se lembre e “reze” por ele.
*ALEXANDRE PIERRO é sócio-fundador da PALAS e um dos únicos brasileiros a participar ativamente da formatação da ISO 56.002, de gestão da inovação.
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